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Escuta o Véio!

A distância entre minha casa e o supermercado mais próximo. Praticamente um centro de treinamento para a prática do mais nobre Mandamento Véial.

Geesthacht, Alemanha. Segundo semestre de 2005. Esse post começa sem a frase, porque a frase já está no título. “O Véio”, como ele se auto-intitulava era a referência principal, não só pra mim, mas para todos os estagiários que chegavam à GKSS, vindo de todas as partes do mundo, em termos de… bem em termos de tudo! “Como faz pra chegar em tal lugar?” Pergunta pro Véio que ele sabe. “Se eu precisar de comprar ração de cachorro, onde é mais barato?” Eu não sei, mas o Véio sabe. “Minha orelha caiu da cabeça!” O Véio leva no hospital.

Sinônimo de como levar uma vida praticamente sem preocupações (eram 4 preocupações básicas Friction Welding, nossa família, onde tomar uma hoje e o futebol. NECESSÁRIAMENTE nessa ordem. Como a gente tava longe, o trabalho tinha que vir em primeiro lugar, pra poder voltar pro povo, que foi o que ele fez!), os ensinamentos véiais eram observados por todos com atenção. E um deles, eu posso falar com segurança, aprendi (ou aperfeiçoei, porque já estava no sangue) à perfeição: a arte da chinelagem. Segue a definição.

Chinelagem: s. f. “1 – Prática comercial na qual o cliente paga por um produto um valor que ele julga adequado ou ainda um valor abaixo do adequado. 2 – Produtos em oferta, por um preço inferior à um valor de referência, arbitrariamente imposto pelo praticante, ou o chineludo”

Os supermercados, alvo central da prática da chinelagem, eram classificados em 5 níveis de acordo com a razão qualidade/preço. De cada 10 idas ao “super” umas 6 eram no Aldi (nível 1),  uma outra no Penny (nível 1), umas duas no Lidl (nível 2) e uma no Plaza (nível 3). Os níveis 4 e 5 eu não cheguei a conhecer. Leite? Mais de 0,50€ tá caro! Queijo? Não passa de uma prata. A camisa pode ser de marca? Deve! Mas não pode passar de 10 €.Home Theater 150 €? Não… Tem que ser menos de 100 € (achamos por 90 €). A prática se estendia à lojas de eletrônicos, roupas, artigos esportivos, departamento, construção, tudo. Nem a Arena de Hamburgo, estádio do HSV, um dos palcos da Copa de 2006, escapou. “Os fudido da 9C” estavam lá domingo sim, domingo não. Preço: 15 €. Nenhum Euro era gasto sem alguns (valiosos) minutos de reflexão. O chineludo deve ser paciente, mas a prática tem sua grande vantagem. A chinelagem te livra de todo e qualquer problema de ordem financeira, te faz trabalhar melhor e conseqüentemente aproveitar melhor tudo que a Europa tem pra oferecer. Se os mandamentos véiais fossem escritos em uma tábua, a chinelagem estaria no topo, vencendo por milímetros outro sábio mandamento: “não passar vontade”.

O objetivo desse post é simplesmente ressaltar o legado do Véio. A chinelagem ainda vive e é praticada com intensidade aqui em Lecce. O alvo principal é o supermercado que está do outro lado da rua. Sacou a foto aí em cima? O prédio da esquerda é onde eu moro, do outro lado da rua o CONAD. Tenho a “Carta CONAD” que dá descontos exclusivos e acumula pontos pra ganhar mais descontos lá na frente. Por exemplo, as birita de domingo pra tomar vendo o Futebol Americano, qual eu escolho?? A que tiver o preço reduzido pela “carta”, óbvio. Cada semana é uma e semana passada era a Heineken! Um pila pela garrafa que custa uns 4 reais no Brasil… Pra utensílios para a casa, que eu precisei logo quando mudei, o lugar chama Happy Casa (nenhum IKEA perto, o Véio recomendaria os suecos nessas horas…), fica em uma cidade vizinha chamada Surbo, tem que ir de ônibus, mas as coisas chegam a ser 50% mais baratas do que a média dos preços. Pra eletrônicos tenho aqui a mesma rede tínhamos em Hamburgo, perto da estação de Altona. Media Markt na Alemanha, Media World na Itália, mas a mesma loja.

A Itália está meio em crise é verdade, algumas coisas chegam a custar três vezes o preço que custavam em 2005, na Alemanha, mas nada que um chineludo atencioso não consiga driblar. Ou de repente andar alguns quarteirões a mais e ir comprar em outro supermercado. Tudo em nome da vida tranqüila, sem preocupações.

Por último deixo pro Véio a frase que eu coloquei na minha dissertação de mestrado, que eu sempre quis mostrar pra ele, mas que eu sempre esqueci de pegar uma cópia na minha sala e levar pra algum churrasco.

“Um agradecimento importante ao Véio, que me fez descobrir a “veia experimental”. Valeu demais pelo Geile Zeit em Geesthacht!”

Véio, veia… Ficou difícil essa, né?

Abraços a todos!

Discussion

3 thoughts on “Escuta o Véio!

  1. Lindo!!! O máximo!! Um verdadeiro “Manual de Instruções” para estagiários no exterior. E num estilo delicioso de se ler. Parabéns!! Vá em frente blogueiro!

    Posted by Neuza Maria Costa Alves de Pankiewicz | 15/10/2011, 18:24
    • Oi, Carlos Gabriel,
      Fiquei muito emocionada ao ler seu texto. E ele traduz realmente a vocação de paizão ou protetor do Gustavo. Sua dedicatória a ele é fantástica: um trocadilho em reconhecimento à mão amiga. Mas saiba que família é assim: hoje um estende a mão, amanhã outros continuam este gesto tão nobre.
      Beijos.
      Tia Nilza

      Posted by Nilza | 15/10/2011, 20:11
  2. aafffff pq nao fui pra Italia; Alemanha… qq outro pais a nao ser Inglaterra? A IKEA aqui e’ a mais cara da paroquia! Mas eu estou praticando chinelagem sem saber… Nos demoramos 2 anos pra comprar uma TV nova e gigante. Resultado: compramos por 1/3 do preco em Dezembro que estava anunciado em Janeiro!
    Agora falta uma cama descente! Acho que essa eu volto sem comprar!

    Posted by Claudia | 17/10/2011, 08:34

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