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Barcelona Parte I: 2011 termina no Camp Nou, 2012 começa no Montjuic

Feliz Ano Novo!

 

“Feliz Ano Novo!” Ou existe outra frase pra começar o ano? Talvez exista. E cidade melhor pra se começar um ano? Definitivamente não. Quando 2012 chegou eu estava no Eclipse Bar, no vigésimo sexto andar do W Hotel chamado de “El Hotel Vela”, pelo seu formato de vela de navio. De fato, quando ele é visto de longe, tendo o Mediterrâneo ao fundo, como na foto do post anterior, pode dar a impressão de ser um barco. Um bem grande. Voltando pra ordem cronológica…

Dia 30. Depois de um longo descanso, voltei pra estação de Sants. O bairro de Les Corts, onde fica minha casa  (a essa altura do campeonato eu já chamo de minha), é relativamente longe do centro e minha primeira parada seria o Bairro Gótico, no centro histórico de Barcelona. Saindo da estação Liceu, dei de cara com La Rambla, talvez a rua mais famosa da cidade, corta o centro histórico, descendo em direção ao Mar Mediterrâneo, unindo a Plaza Catalunya ao cais. La Rambla é dividida em três. Uma pista pra subir carro, uma pra descer e a do centro, maior e arborizada, para pedrestes. Cheia de lojas, sejam elas de grife ou de chinelagem, bares, cafés, restaurantes, boates, sex shops. A Plaza Catalunya, por sua vez fica entre o centro e Gracia, bairro de origem burguesa, levantado no início do século passado, respira pra sempre o modernismo dos arquitetos catalães daquela época, mas isso é assunto para a parte II.

Localizei um posto de informações turísticas dentro do Bairro Gótico e consegui o mapa do Corte Inglés, que o Romero diz ser o melhor de todos, o que ele sempre empresta pra quem chega e que depois ele nunca mais vê. 3G no celular eu não tinha graças à Movistar, então ele foi meu principal aliado nas andanças diurnas. Nas noturnas era só seguir o Romero e pronto. A Catedral de Barcelona, a gótica, foi a primeira visita. E aconteceu o que sempre acontece. Reforma… Fiz inclusive uma foto com cara de triste, com os andaimes avacalhando a fachada da catedral. De qualquer forma o interior e o exterior são impressionantes, a riqueza de detalhes do estilo faz o que é bonito de longe ser maravilhoso de perto. No interior uma espécie de jardim, com alguns marrecos passeando neles absolutamente tranquilos.

A Catedral de Barcelona

Do alto da Catedral. A Basílica da Sagrada Família no meio dos prédios.

A Basílica da Sagrada família

Eu tenho uma doença séria, a “Síndrome do Homem-Aranha”. Qualquer lugar que eu visito, procuro saber se tem jeito de subir no teto, terraço, torre ou qualquer coisa do gênero. E nesse caso tinha. O acesso ao elevador estava incluído na entrada pra visitar o interior. Lá no alto o “chão” e os corrimães eram todos de metal, construído por cima do telhado da catedral. E lá de cima eu aprendi, que tirando o centro, que é romano, a cidade é formada por quarteirões perfeitamente quadrados. Nunca tinha visto uma malha de prédios tão perfeita daquele jeito. Aprendi também que uma construção se destaca no horizonte. Muito maior do que tudo. 8 imensas torres (4 delas chegam aos 90 metros de altura) saem do chão e se destacam no meio dos quadrados milimétricamente ordenados. A Basílica da Sagrada Família.

Ao ver aquele “monstro” lá de cima, abri o mapa e fui entender como chegar lá. Sabia que ainda faria muitas andanças pelo centro e que qualquer coisa que eu fosse ver se ficasse pelo Bairro Gótico seria mal vista porque eu estava com aquele mastodonte na cabeça. E quando você cisma que quer ir ver uma coisa, é melhor ir ver logo. Rapidamente eu identifiquei no mapa a linha de metrô que levava à estação Sagrada Família e meia hora depois estava debaixo dela, com o pescoço dobrado a 90 graus, olhando pra cima e tentando em vão enquadrar o gigante em uma só foto.

Chegamos à parte em que eu devo confessar minha ignorância. Coloquei o pé em Barcelona sem nunca ter ouvido falar em Antoni Gaudí. E de certa forma foi bom, nunca mais vou esquecer a obra do camarada. A Sagrada Família é, por acaso, sua obra-prima. Catedrais costumam ter o formato de cruz, com a entrada principal na “ponta de cima” da cruz. A Sagrada família terá uma fachada em cada uma das três pontas de cima da cruz. Duas já estão quase prontas, a Fachada do Nascimento (que retrata o nascimento de Cristo) e a Fachada da Paixão (que retrata a crucificação). A Fachada da Glória ainda começou a ser construída em 2002. Gaudì morreu em 1926 e a Guerra Civil Espanhola acabou por destruir muitos projetos e maquetes que ele tinha deixado para a continuação. Só participou efetivamente da Fachada do Nascimento e da Cripta e o projeto foi sendo passado ano após ano a outros arquitetos catalães que deveriam sempre seguir as indicações de Gaudí, com uma ou outra inovação.

Naturalmente a Síndrome do Homem-Aranha atacou e lá fui eu tentar descobrir como subir em uma das torres. Em primeiro lugar eu tinha que pegar a fila. Gigante. Quando estava chegando a minha vez eu já começava a escutar: “Elevador? Torre? Subir? Não dá, ingressos esgotados!”. Quando eu comecei a pensar em desistir e voltar algum outro dia mais cedo pra poder subir, um francês devolveu o ingresso na minha frente, falando que tava desistindo. Eu era o próximo da fila, peguei o ingresso que tinha acabado de ser devolvido e fui ver Barcelona a 80 metros de altura. Quando eu desci percorri todo o interior e só fui sair da basílica quando já era noite. Não sem antes aprender que tudo aquilo que o Gaudí colocou a mão é diferente. Não dá muito pra explicar, além do que pode ser visto nas fotos. É simplesmente diferente. O cara sabia exatamente que cor e que forma um vitral, uma janela, uma coluna, um mosaico deveria ter e como seria a iluminação do lugar a partir disso.

Maquete mostrando o que já foi construído (marrom) e o que será contruído até 2026 (branco)

O interior da Sagrada Família

Os quarteirões quadrados de Barcelona

Voltei pra base pra tomar banho antes de encontrar o povo. Amigos de uma amiga que tem uma outra amiga que estava morando em Barcelona. Fomos pra uma boîte em La Rambla, “We Found Love” da Rihanna bombava sem parar. Na volta todo mundo com fome e… pera aí… Não tem absolutamente nada aberto pra comer. Não tem McDonald’s da Savassi. Não tem Paracone. Com muito custo achamos um taxi que topava levar até um Drive Thru do McDonald’s perto da Vila Olímpica, que fica aberto 24 horas. A única coisa aberta de madrugada em toda Barcelona.

No último dia do ano, fui direto pro Camp Nou. Pertinho de casa. Uma caminhada de 15 minutos pela Travessera de Les Corts. E na chegada dei de cara com um painel luminoso em uma das bilheterias: “Próximo Jogo: FC Barcelona X CA Osasuna – 04/01/2012”. Uma quarta-feira. Eu sabia que o Campeonato Espanhol só voltaria no fim de semana seguinte, que eu já estaria de volta a Lecce, mas tinha esquecido da Copa do Rei. Fui tomado por um sentimento de urgência. Essas bilheterias estão todas fechadas? Quando abrem? Que dia começa a vender? Súbitamente a visita ao museu + tour pelo estádio, o Camp Nou Experience, ficou em segundo plano. Perguntei pra um dos seguranças do estádio. Dia 02. Eu estaria em Madrid. “Mas não vende em outro lugar não, só aqui no estádio?” Segundo o camarada me falou, tinha um stand de informações turísticas em La Rambla, logo no começo, perto da Plaza Catalunya. Não tinha nada que eu pudesse fazer além de me concentrar na visita ao maior estádio (em capacidade) da Europa, palco da final de Liga dos Campeões mais emocionante de todos os tempos, a de 1999, e de tantos outros momentos históricos do futibas.

O Camp Nou Experience atende perfeitamente as necessidades de qualquer fanático. O tour é feito na seguinte ordem. Arquibancadas -> Zona Mista -> Sala de Imprensa -> Vestiário visitante -> Campo/banco de reservas ->  Cabines de Imprensa -> Museu. Logo que eu entrei no vestiário dei de cara com um mito. Martín Palermo. Monitores de TV mostramm fotos de todos os grandes jogadores da história do futebol que já usaram o vestiário e lá estava “El Loco”, de braços abertos, gritando um gol, vestindo o azul e ouro do “mais temido” de toda a América. No museu o de sempre. Objetos históricos, como a camisa laranja que o Michael Laudrup usou na final da Champions League de 1993, que o Barcelona conquistou depois de muito sofrimento ao longo dos anos, mais ou menos como um certo time paulista que vive correndo atrás da Libertadores. Trofeus. Milhões deles, incluindo um que tinha acabado de sair do forno. O Mundial de Clubes de 2011 depois de um cruel atropelamento em cima do time do Neygay.

A visita termina na loja do Barcelona, onde eu uni o útil ao agradável. Precisava de uma mala. Não iria dar pra voltar pra casa só com a mochila. Já tinha sido difícil na ida e iria voltar com mais coisas. Solução: uma linda mala de cabine do Barcelona. Terminada a visita fui direto pra Plaza Catalunya atrás do ingresso. Achei o tal ponto de informações turísticas no início de La Rambla e comprei. Recebi um voucher pra retirar o ingresso no dia do jogo. Desci La Rambla numa alegria incontida, passei em La Boquería, um mercado tradicional, digamos… análogo ao Mercado Central… Comprei uma camisa um pouco mais adequada à high society de Barcelona (outro dia vi uma foto do Piqué e da Shakira no mesmo Eclipse Bar, onde eu estaria em mais algumas horas. O FC Barcelona usa o hotel pra jantares, eventos e concentrações. Sim, ultra-high society). Quando cheguei na marina, no pé do Colombo, a noite já tinha caído e era melhor eu me aprontar pro ano-novo.

Nas arquibancadas do Camp Nou. Mais que um clube.

Chupa Neygay!

Difícil enquadrar tanto troféu. Vitrine dedicada a 2009, ano em que o Barcelona ganhou, literalmente, TUDO!

E a virada do ano foi bonita. Os fogos de artifícios estouravam bem próximos, a vista lá de cima é simplesmente perfeita. Eu passaria todos os anos-novos em Barcelona se tivesse jeito. Depois de ver os fogos e pegar alguns drinks no bar, com um barman que fazia altas acrobacias muito rápidas, eu acordei. O problema é que eu não lembrava de ter dormido. Enfim, era hora de voltar pra casa. Rachar um taxi com 8 pessoas. Fácil! O problema é quando 7 delas vão pro mesmo lugar e vc ainda tem que pegar o metrô pra terminar de chegar em casa. Foi aí que eu descobri que eu tenho um “modo piloto-automático” funcionou perfeitamente.

Dia 1º de Janeiro. Metrô em direção à Plaza Espanya, no pé do Montjuic. Na saída da estação uma ex-plaza de toros, que agora é um shopping e, no último andar, vista panorâmica da Plaza Espanya e do MNAC um museu-palácio que fica no que seria “a entrada principal” do Montjuic (olha a SHA de novo…). Uma das principais atrações do lugar, as fontes, estavam desligadas. Era de dia e era feriado. Lá do alto outra linda vista da cidade. E atrás do MNAC… 1992. Hein? Juro. Eu escrevo, se tiver ficado esquisito. Mil novecentos e noventa e dois. Eu tinha 9 anos. O arqueiro não acertou a pira. Marcelo Negrão acertou um ace. A União Sóviética virou Comunidade de Estados Independentes. Gustavo Borges foi mais rápido que a cronometragem oficial, mas um pouco menos rápido que Alexander Popov. Tudo isso aconteceu no Montjuic. Seja no Estádio Olímpico, nas piscinas ou no Palau Saint Jordí, que viu além do Ouro do Brasil no vôlei, Micheal Jordan e o Dream Team americano de basquete. No meio deles a Torre Calatrava, outro cartão postal da cidade. Uma torre de telecomunicações desenhada por Santiago Calatrava, um arquiteto valenciano, por ocasião dos Jogos. Quem conseguir enxergar um atleta se abaixando pra receber uma medalha, me conta como. Dizem que é isso que ela representa. É inclusive o troféu do Grande Prêmio da Espanha de F1, realizado anualmente no Montmeló, em Barcelona. Esse era muito longe, ficou pra próxima. Depois do Tour Olímpico fui andar de bondinho. E depois pro Castelo do Montjuic. O mais interessante é que ele é aberto ao público. Não se paga pra entrar nem nada e a vista lá de cima é espetacular. Fui embora de lá mais ou menos junto com o sol. Desci na estação Arc de Triomph (Barcelona também tem o seu) pra comprar a passagem de ônibus pra Madrid. Os dias 2 e 3 seriam na capital espanhola.

Passei em casa, arrumei a mochila e voltei pra pegar o ônibus que sairia à 1:00 da madruga. Era só uma viagem de dois dias. Não iria demorar. Pouco tempo depois eu estaria em casa de novo!

 

 

Discussion

3 thoughts on “Barcelona Parte I: 2011 termina no Camp Nou, 2012 começa no Montjuic

  1. Uma viagem mais em sua companhia!! O que eu aprecio, e muitas pessoas que conheço também, é sua percepção dos lugares e seu estilo de cronista. Você agrega valor e glamour aos lugares e às coisas, como por exemplo, o simples ato de tomar uma bebida! Eu amo ler e aprender. Fazer o quê?

    Posted by Neuza Maria Costa Alves de Pankiewicz | 04/06/2012, 04:57
  2. Bom texto. Já pensou em escrever uma espécie de “Guia dos Mochileiros da Europa”?
    Seus relatos de viagem renderiam um livro, sério mesmo. Eu poderia até ler, se ganhasse um (comprar? Ah, não força a barra também não…).

    Posted by ThiagoFC | 11/06/2012, 22:38
  3. Acabei de ler o prólogo, e resolvi comentar aqui porque não sei se você confere os comentários de posts anteriores.

    “‘Tá cheio de cerveja! É pra beber’. Melhor anfitrião ever.” – Acompanho o voto do relator. Não conheço o Romero, mas depois dessa já fiquei fã dele.

    Posted by ThiagoFC | 15/06/2012, 19:48

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